
Esse site agrega os processos investigativos sobre os fazeres e saberes das danças afro-diaspóricas, seus procedimentos poéticos e pedagógicos vivenciados pelo artista pesquisador educador Fernando Ferraz.


Afetos são processos formativos vivenciados ao longo da vida que nos informam sobre nossas subjetividades, desejos e reconhecimentos. São modos de conhecimento resultantes de experiências que se apresentam como intensidades singulares produtoras de saberes incorporados.
Diáspora são caminhos de transfiguração, revelam processos históricos responsáveis pela disseminação atualizada de culturas que ressoam similaridades e diferenças, desterritorializações e reterritorializações. Sua face afroderivada fundamenta-se em anterioridades africanas, as quais ressoam processos de hibridização imemoriais. Distante de visões idílicas, assume o papel político de denunciar a violência que constitui a modernidade ocidental, ao passo que revela a intrincada dinâmica de singularidades, produtora de deslocamentos e alteridades renovadas, ancestralidades presentificas e em diálogo aberto com os territórios de prática capazes de atualizar e ressignificar o trabalho afetivo sobre o corpo.


Os afetos diaspóricos são confissões abertas, convites corajosos e contraditórios cuja tarefa poética incide sobre e produz dúvidas sobre os saberes pretensiosamente universais. Sua ação coloca em cheque as lógicas hegemônicas, revisa omissões e apagamentos, solicita a vertigem do olhar múltiplo capaz de estabelecer e nutrir redes de trocas entre posicionalidades díspares, produzir encontros imprevisíveis, relações insuspeitas, experiências de recriação e reinvenção de si.

Produção
Artística
Espetáculos, Performance, Solos, audiovisuais.
Imagine o voo de milhares de pássaros sobre um Lago da África ou das Américas. O Tanganica ou o Erie, ou um desses lagos dos Trópicos do Sul que se aplanam e se fundem à Terra. Veja essas revoadas de pássaros, esses enxames. Conceba a espiral que eles desenlaçam, e na qual o vento escorre. Mas não saberá enumerá-los verdadeiramente durante o seu lançar-se todo em crista e ravina, sobem e descem fora da vista, caem e enraízam-se, revoam em um só ímpeto, seu imprevisível é que os une e rodopiando aquém de toda a ciência. Sua beleza golpeia e foge. Depois a noite surge e o deixa estupefato. Suas asas são de brilho e seus ventres de sombra; você não os viu estenderem, nas margens e nas espumas enegrecidas, o tecido adamascado do silêncio que eles fazem (GLISSANT, O pensamento do tremor, 2014).
